Manhunt: Unabomber

Na série “Manhunt: Unabomber”, disponível na Netlix, Sam Worthington é James Fitzgerald, um perfilador do FBI que tem uma habilidade peculiar relacionada à análise linguística. Devido a essa habilidade, ele é escalado para ajudar na operação que visa capturar o terrorista conhecido como Unabomber.

O Unabomber agiu entre 1978 e 1995 nos Estados Unidos. Ele enviava cartas-bomba para pessoas da área tecnológica e universitária (geralmente professores). Durante todos esses anos, as investigações, segundo mostra a série, sequer chegaram perto de descobrir a identidade do terrorista. Isso só veio acontecer quando Fitzgerald entrou para a força-tarefa.

A partir de cartas (“cartas-não-bomba”) enviadas pelo Unabomber, o agente Fitzgerald passou a procurar evidências de quem seria o terrorista. Fitzgerald faz avanços ao traçar o perfil do terrorista, mesmo sendo desacreditado por boa parte dos colegas. Mas mesmo assim a investigação não progride. Isso só acontece quando o Unabomber envia o manifesto “A sociedade industrial e seu futuro” e faz uma proposta: se grandes jornais como New York Times e Washington Post publicarem seu texto, ele não mais enviaria cartas-bomba.

Após uma controvérsia, e após o FBI descobrir que estava há dois anos seguindo uma pista completamente equivocada, a publicação do manifesto é realizada e tem papel fundamental na identificação e captura do terrorista: Ted Kaczynski.

Formado em Harvard, onde iniciou a graduação aos 16 anos, e com phD em matemática pela Universidade de Michigan, Kaczynski chegou a ser professor assistente na Universidade da Califórnia, em Berkeley. A graduação, o mestrado e o doutorado aconteceram entre 1958 e 1967, e ele lecionou até 1969. Em 1971, Kaczynski se afastou da sociedade e foi viver isolado em Lincoln, no estado de Montana, numa cabana sem eletricidade, água encanada ou qualquer aparelho tecnológico.

Apesar de abordar também a infância e a adolescência de Kaczynski, “Manhunt: Unabomber” se passa principalmente em duas épocas diferentes: 1995, quando a força-tarefa passa a contar com a presença de James Fitzgerald, e 1997, quando Kaczynski e Fitzgerald se encontram, às vésperas de uma audiência com um juiz. Kaczynski solicita um encontro com o agente, e o FBI concorda, pois pretende que Fitzgerald convença o terrorista a se declarar culpado. Assim, eles evitariam que o caso se transformasse num julgamento que seria acompanhado por toda a imprensa e provavelmente transmitido pela televisão, como acontecera em 1995 com o julgamento de O.J. Simpson, fazendo com que as ideias de Kaczynski se espalhassem ainda mais.

A série é excelente. As atuações são ótimas, principalmente a de Bettany. É notável e louvável o esforço de Sam Worthington em mostrar James Fitzgerald como um agente introspectivo e tímido, mas muito determinado (na verdade, obcecado) e com grande confiança no próprio trabalho, a despeito da desconfiança e do menosprezo de quase todos ao redor.

O único “problema” – entre aspas porque não é realmente um problema – de “Manhunt: Unabomber” são algumas liberdades criativas que não são informadas ao telespectador. Uma delas é que Kaczynski e Fitzgerald jamais se encontraram. Nada contra essa liberdade criativa, mas, sendo uma série baseada em fatos reais, seria interessante explicitar no mínimo essa informação nos créditos do último episódio.

No que se refere ao trabalho inovador de linguística forense, um dos pontos altos da série, James Fitzgerald realmente se tornou uma referência no assunto, embora o termo “linguística forense” tenha surgido no fim dos anos 1960.

Outro ponto alto é a história de Ted Kaczynski, uma pessoa inteligentíssima que poderia ter feito diferença no mundo. Num dos episódios ficamos sabendo que, enquanto se graduava em Harvard, Kaczynski foi alvo de um experimento psicológico feito por um professor de psicologia. Esse experimento, segundo uma das falas de Bettany/Kaczynski, está ligado a um projeto então secreto da CIA chamado MK-Ultra, que fazia experimentos com civis sem eles serem informados. Esse experimento, supõem alguns, pode ter influenciado Kaczynski a iniciar sua vida como terrorista.

Além de contar a história central, da caça ao Unabomber, e dos personagens, a série cita fragmentos do manifesto de Ted Kaczynski. Pelo que é apresentado, os termos gerais de suas ideias são compartilhadas por muitas pessoas, principalmente hoje. Basicamente, Kaczynski defende que nós nos tornamos escravos da tecnologia, e que ela tem prejudicado a sociedade, o que não deixa de ser uma verdade. Seu erro foi ter escolhido, para chamar a atenção para as suas ideias, a pior maneira possível: o terrorismo.

Para quem gosta de investigações e séries “quebra-cabeça”, e de um bom drama, “Manhunt: Unabomber” é um prato cheio.

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