De um caderno cinzento, de Paulo Mendes Campos

51DgrFhzKeL[1]Eu queria escrever um texto bem bacana sobre “De um caderno cinzento” (Companhia das Letras, 2015, 240 págs., org. Elvia Bezerra), que reúne textos nunca antes publicados em livro de Paulo Mendes Campos. Um texto que não fosse uma resenha chata ou pedante, mas sim leve e divertido, como se fosse uma crônica.

A ideia, claro, seria fazer com que o leitor ficasse com vontade de ler “De um caderno cinzento”.

Nesse texto, eu seria bem informal. Diria que comecei a ler o livro em 2015 e só terminei quase um ano depois – e não saberia explicar objetivamente o motivo de tanta demora. Porque ela não se justifica com a desculpa de que vários outros livros foram lidos nesse ínterim. Afinal, “De um caderno cinzento” não é longo, e nem de longe é chato.

Depois de pensar a respeito, cheguei à conclusão de que essa demora só poderia ser explicada de maneira subjetiva: eu não queria terminar de ler “De um caderno cinzento”. O que é ainda mais inexplicável, tendo em vista que tenho mais quatro livros do Paulo para ler.

Mas esse texto não seria apenas uma divagação pessoal, ele seria informativo, também. Eu escreveria, por exemplo, que o escritor e jornalista Ruy Castro, em seu livro “Ela é carioca”, afirma que Paulo Mendes Campos e Rubem Braga “foram dois dos três maiores cronistas brasileiros” do século passado. “O terceiro”, arremata Ruy, “você escolhe” (e eu diria que escolho Fernando Sabino, que é o meu cronista favorito, apesar de a concorrência ser grande).

Também escreveria que Paulo nasceu em 28 de fevereiro de 1922, em Belo Horizonte, e que ele fez parte do quarteto de amigos que ficou conhecido como Os Quatro Mineiros do Apocalipse, do qual fizeram parte, além dele, Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino.

Para completar esse trecho informativo do texto, eu diria ao leitor que, além de cronista, Paulo foi, entre outras coisas, poeta, jornalista, tradutor, roteirista, redator de publicidade e até ghost writer – segundo Ruy Castro -, e iniciou os cursos de veterinária, odontologia e direito, sem concluir nenhum deles. E nem precisava, na verdade. Afinal, sua vocação era mesmo a literatura.

Num trecho bobo em que me deixaria seduzir pelo pedantismo, diria que essa vocação teria como prova a qualidade e a profundidade de vários dos textos reunidos em “De um caderno cinzento”. Eu inclusive destacaria que em um deles, por exemplo, publicado em 06 de janeiro de 1946, quando Paulo tinha apenas vinte e quatro anos, ele fala sobre algumas definições de poesia, citando vários autores, mas principalmente Mallarmé e Paul Valéry.

Diria, também, que a poesia é um tema recorrente no livro, e que, entre as crônicas e aforismos – sim, também há aforismos no livro -, Paulo encaixou alguns poemas – ou versos – de autores como W.B. Yeats, Charles Baudelaire, Paul Verlaine e outros.

Mas deixaria claro que meus textos prediletos são os mais leves, os despretensiosos, e destacaria um no qual Paulo admite ter medo de lagartixa e compartilha com o leitor a divertida história do dia em que foi surpreendido por três delas em sua casa.

A ideia seria publicar o texto no dia 1º de julho de 2016, quando se completam 25 anos da morte de Paulo. O texto também marcaria de uma forma muito especial o retorno do meu blog, do qual passei um bom tempo afastado.

Infelizmente, não consegui escrever o texto que eu queria, mas escrevi este aqui. Espero que ele não aborreça ninguém.

* * *

Mais sobre Paulo Mendes Campos:

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