O próximo da fila, de Henrique Rodrigues

Tenho lido, nos últimos meses, diversos livros de autores nacionais (romance ou contos), mas não havia sentado para escrever sobre eles. É o que tentarei fazer a partir de agora.

oproximodafilaUma das coisas que mais me surpreenderam em “O próximo da fila” (Record, 2015, 192 págs.), primeiro romance do escritor Henrique Rodrigues, foi a sua agilidade, a sua fluidez. Comecei a lê-lo numa manhã e, em pouco tempo, já tinha lido um terço do livro.

O Henrique não é nenhum novato na literatura. Seu primeiro livro foi publicado em 2006 (“A musa diluída”, poemas), eu já havia lido alguns de seus contos e crônicas (e gostado), mas confesso que não esperava um romance tão bom. Por favor, não me entendam mal: o Henrique é um excelente escritor. A questão é que o primeiro romance de qualquer autor é sempre um tiro no escuro.

Bem, na verdade, qualquer texto de qualquer autor é um tiro no escuro. Difícil explicar o que quero dizer… Acho que, para alguém bem-sucedido em outros gêneros – poesia, conto e crônica, no caso do Henrique -, arriscar-se no romance é muito mais difícil, e a pressão é maior. Como também sou escritor, imagino que Henrique tenha se sentido apreensivo em diversos momentos, assim como seus amigos e leitores, que certamente torciam pelo seu sucesso.

Mas enfim. Divaguei, divaguei e não falei propriamente do livro.

“O próximo da fila” conta a história de um rapaz que, perto de fazer 16 anos, perde o pai. Um pai que, nos últimos dois anos, havia se afastado do filho. A tradicional dureza paternal tinha se transformado em agressividade, direcionada não apenas ao então pré-adolescente, mas também à sua mãe e ao irmão caçula.

Com a perda, vem a necessidade de mudanças. Não apenas para uma casa menor: o jovem precisaria trabalhar para ajudar nas despesas de casa. Temos aqui, portanto, uma “tempestade perfeita”, digamos assim: um garoto passando pelas mudanças da adolescência – o que já não é fácil – perde o pai e precisa conseguir um emprego.

E ele consegue, na filial de uma rede de fast-food. Com o trabalho, o jovem – de quem não sabemos o nome – passa por mais mudanças e experiências. Precisa ser responsável, seguir horários, aprender funções, relacionar-se bem com o chefe e com os colegas de trabalho, atender bem aos clientes e, inevitavelmente, lidar com as paixões juvenis; uma série de “primeiras vezes”, em suma.

(É claro que faço referência apenas ao cerne do livro. Ao redor dele, há outras questões e acontecimentos que prefiro não mencionar, para não estragar a surpresa de quem o ler.)

Muitas das experiências vividas pelo protagonista, inclusive conflitos éticos e de certa forma políticos, também foram vividas por nós, e ler o romance de Henrique Rodrigues é também fazer uma viagem por nossas lembranças. Talvez por isso “O próximo da fila” seja um livro tão impactante e fique em nossa memória por tanto, tanto tempo.

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