Harém, de Eugenia Zerbini

No fim de 2016, ao fazer meu “balanço de leituras”, notei que havia lido apenas dois livros escritos por mulheres. Então olhei para trás e vi que isso sempre aconteceu. Eu sempre li poucas obras escritas por mulheres.

(Estou falando de livros lidos do início ao fim, é bom deixar claro. Contos, crônicas, artigos, ensaios, reportagens de mulheres sempre me foram muito familiares. Mas livros, de ficção, lidos do início ao fim foram poucos.)

Ao me perguntar o porquê disso, não encontrei respostas. Mas, como falei na Flipelô, me parece que a leitura de autores homens está enraizada em nossa educação. A quantidade de autores que lemos nos anos escolares, e mesmo na universidade (esta é, pelo menos, a minha experiência), é muito maior que a quantidade de autoras.

Feita a constatação, decidi que neste ano de 2017 leria mais obras escritas por mulheres. E comecei lendo “Harém” (Patuá, 2016), livro de contos de Eugenia Zerbini.

Temos, em “Harém”, histórias sobre uma telefonista que gosta de estar por dentro das novas tecnologias mas que se depara com o tédio da aposentadoria (“Hermosina”); sobre uma menina que parece ter prazer em ser cruel com a irmã mais nova (“Marina”); sobre um homem perseguido por uma morte ocorrida quando ele – e a morta – eram crianças (“Mazé, Mazezinha”); e até mesmo um conto (um dos melhores do livro) em que o narrador é um botão – sim, um botão – de camisa (“Laura (ou lembremos de nossos amores)”).

O harém de Eugenia Zerbini reúne mulheres de várias idades e classes sociais em situações de medos, prazeres, devaneios, dúvidas, perigos. Democrático, o harém de Eugenia também conta com a participação e alguns protagonistas homens, como no já citado “Mazé, Mazezinha” e no conto que encerra o volume, “O rei de todos os naipes”.

Transitando com leveza e precisão entre histórias realistas e fantásticas, Eugenia Zerbini nos entrega uma reunião de narrativas precisas e nem um pouco previsíveis. Duas características perseguidas por todo e qualquer contista, mas que muitos não conseguem alcançar.

Leia uma entrevista com Eugenia Zerbini – e o conto “O rei de todos os naipes” – na nova edição da Outros Ares.

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