Em defesa do conto

Dias atrás, conversando com algumas pessoas sobre a possibilidade de publicar um novo livro de contos este ano, uma delas me perguntou: “Contos de novo? Por quê?”.

O momento não permitia uma resposta mais demorada e romântica, como pretendo que seja este texto. Respondi que é meu gênero literário predileto, e que me sinto mais desafiado quando escrevo um conto.

Agora, pensando no que disse, talvez não seja um exagero dizer que menti. Na verdade, a crônica é o gênero literário de que mais gosto, e, no momento, meu maior desafio é dar prosseguimento a um dos dois romances que iniciei – ou começar a escrever um terceiro.

Mas a pergunta ficou no ar. Por que contos?

Para respondê-la talvez seja necessário recorrer à minha memória literária afetiva. Quando comecei a ler literatura a sério, há pouco mais de onze anos, alguns dos livros que mais me marcaram foram de contos. A saber: “Risíveis amores”, de Milan Kundera, “Os amores difíceis”, de Italo Calvino, e “Bola de Sebo e outros contos”, de Guy de Maupassant. E foi muito em virtude dessas leituras que comecei a rascunhar minhas primeiras histórias curtas.

O curioso é que já não há nenhum rastro dessas obras em minha mente. Nada além de flashes. Mas lembrar desses livros me leva a lugares e sensações ternas e delicadas, eles me fazem lembrar de uma época determinante de minha vida, que jamais esquecerei.

Talvez escrever contos seja uma maneira de voltar no tempo. Melhor dizendo: de viajar no tempo, uma vez que a maior parte dos meus escritos tem como ponto de partida situações ocorridas ou idealizadas no passado e no futuro. Não necessariamente do meu passado ou do meu futuro, é bom deixar claro.

Mas, voltando às duas mentiras do início desta digressão: elas não são assim tão grandes. O conto é o gênero que mais admiro – gostar é uma coisa, admirar é outra; espero que não seja preciso explicar… -, assim como são ou foram grandes contistas boa parte dos autores que mais estimo – Franz Kafka, Clarice Lispector, Menalton Braff, Ronaldo Correia de Brito, Mayrant Gallo -, e realmente é um grande desafio escrever uma história curta.

Tempos atrás, conversando com alguém sobre o assunto, eu disse mais ou menos o seguinte: dentro de um romance os deslizes de um autor são menos perceptíveis. Ele pode cair de qualidade em um trecho ou capítulo, e recuperar-se em outro. Já o conto não tem essa regalia. Todo escritor, ao escrever um conto, percorre uma estrada entre o nada e a perfeição. Alguns chegam perto do destino final, outros ficam no meio do caminho, mas a maioria não consegue dar alguns poucos passos.

Estou tentando encontrar meu caminho, e este segundo livro – que de definido tem apenas o título – será a minha segunda tentativa. Espero chegar mais longe do que cheguei com o primeiro.

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