Carta aberta aos bolsonaristas

Caro bolsonarista,

Eu sei que você está cansado de tantos escândalos de corrupção, e, principalmente, de tanta violência. Mais que cansado, você está revoltado. Você quer um basta na roubalheira, quer viver a sua vida em paz, quer poder sair de casa sem medo de que coisas ruins aconteçam.

Todos nós estamos no mesmo barco. Por isso, gostaria de conversar um pouco com você. Peço que, por favor, leia esta minha carta até o final.

Eleição após eleição, políticos tradicionais prometem resolver vários dos problemas graves do Brasil, mas não resolvem, e você agora acha que só alguém contra esse sistema pode resolver a nossa situação.

Jair Bolsonaro diz ser essa pessoa. Ele afirma ser contra o sistema e propõe resolver todos os nossos problemas rapidamente e de maneira simples, e promete que vai recrutar as melhores pessoas para ajudá-lo nessa missão, que vai nomear pessoas capazes e técnicas para os ministérios etc.

A princípio, isso soa bem, mas, veja: ele faz parte desse sistema há quase trinta anos. E, em vez de tentar mudar o sistema, ele colocou três de seus filhos dentro dele. Além disso, você viu o que Paulo Guedes, futuro ministro da fazenda caso Bolsonaro seja eleito, falou sobre as alíquotas do imposto de renda? Você viu o que Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, falou sobre o 13º salário?

Você concorda em pagar 20% de alíquota no imposto de renda? Concorda com a extinção do 13º salário?

É, eu sei que a sua revolta é tão grande que talvez esteja disposto a pagar preços altos como esses. Falemos, então, sobre alguns dos maiores problemas do Brasil.

Os problemas do nosso país são muito complexos e não têm soluções simples. Por exemplo, a questão da segurança pública. Bolsonaro diz que é preciso jogar pesado e ter pulso firme com os bandidos. E diz, também, que todo “cidadão de bem” deve poder ter acesso a uma arma.

Você acha mesmo que matar bandidos é a solução? Te pergunto isso por causa do seguinte: bandidos são mortos todos os dias no Brasil inteiro, mas a insegurança e a violência continuam crescendo. Você não acha que tem alguma coisa errada aí? Será que não seria melhor investir na prevenção? Ou seja, em evitar que mais pessoas sejam recrutadas pelo crime?

Sobre cada “cidadão de bem” ter acesso a uma arma, você tem acompanhado o noticiário? Tem visto as tragédias que estão acontecendo com armas em todo o Brasil? Viu a mais recente? Uma pessoa armada viu um rapaz sendo assaltado, atirou na direção dos ladrões mas acertou justamente a vítima. Imagina o que pode acontecer se mais pessoas tiverem mais armas?

Não vai ser nada bom, nada bom.

Outra proposta questionável de Bolsonaro é a castração química para estupradores. Eu sei que estupradores têm que ser punidos, ninguém vai discordar disso. A questão é que além de a castração química ser temporária – ou seja, não é um procedimento definitivo ou sequer muito duradouro –, estudos já revelaram que é a relação de dominação, de demonstração de poder e superioridade, e não o prazer sexual, que move os estupradores. Ou seja, mais uma situação que se deve atuar na prevenção.

Pensemos agora sobre a proposta de Bolsonaro para a educação. Sempre que fala sobre o assunto, Bolsonaro afirma que investimos mais no ensino superior do que nas séries iniciais, e que precisamos inverter essa pirâmide e investir mais na educação de base.

O que pode parecer uma boa ideia se demonstra apenas uma transferência de problema: ao dizer que vai inverter a pirâmide, Bolsonaro está afirmando que vai realocar recursos das universidades para a educação de base, o que pode representar o fim do ensino superior no Brasil, que já está sufocado.

Ou seja, o correto é ampliar os recursos para a educação de modo geral, melhorando a educação de base e também o ensino superior.

Esses são apenas alguns exemplos de propostas de Bolsonaro que precisam ser repensadas.

Além disso, Bolsonaro já deu muitos exemplos de que é preconceituoso, machista, homofóbico e violento. Ele já disse que as minorias têm que se curvar às maiorias, falou em “fuzilar a petralhada“, falou que “a maioria” dos homossexuais são “fruto do consumo de drogas”, disse quenão estupraria uma colega porque “ela não merece”, xingou mulheres diante das câmeras de televisão e disse a uma delas que, se ela batesse nele, ele bateria de volta.

Se mesmo sabendo de tudo isso você ainda votar no Bolsonaro, você estará não apenas votando num candidato cujas propostas são muito frágeis; você também estará concordando com tudo o que ele diz e faz.

Portanto, se você não é machista, homofóbico, violento e preconceituoso, por favor, não vote em Bolsonaro. Há outros candidatos no páreo. Todos têm defeitos, mas nenhum deles é uma ameaça à nossa democracia nem é acusado de tantas coisas como Bolsonaro.

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