A imprensa brasileira e Bolsonaro

Durante a campanha, a grande imprensa brasileira normalizou Bolsonaro. Os absurdos que o então candidato dizia eram noticiados, mas não eram combatidos. Ainda hoje boa parte da mídia não trata Bolsonaro como ele realmente deveria ser tratado: um político de extrema-direita com tendências homicidas. Alguém que está muito mais próximo de um Duterte (presidente das Filipinas) do que de um Trump.

Mas isso não é nenhuma novidade: que eu me lembre, a grande mídia não fez matéria consultando especialistas sobre se a esquerda estava certa quando afirmou que Bolsonaro deveria ter saído preso do Congresso após seu voto na sessão do impeachment de presidente Dilma (ele fez uma homenagem a Carlos Alberto Brilhante Ustra, talvez o pior torturador do regime militar).

Não lembro, também, de a imprensa falar a sério sobre a declaração de Bolsonaro de que iria “fuzilar a petralhada” do Acre, durante a campanha. Sem falar nas entrevistas grotescas que ele, Mourão e Augusto Heleno deram louvando a ditadura. Não houve, por parte da grande mídia, combate efetivo a isso.

Para reagir a essas e outras atrocidades não é necessário se colocar junto à esquerda. Uma saída seria mostrar como é a situação dos países latino-americanos em que houve ditadura (não houve em algum?). Há consequências para a apologia à ditadura nessas nações? Qual a punição para apologia à violência por parte de um político? Coisas simples.

Vale muito a pena olhar para o que aconteceu e continua acontecendo (agora em menor grau) nos Estados Unidos. Por mais que New York Times, Washington Post, CNN etc. estejam batendo pesado em Donald Trump, eles não estão tendo sucesso em transmitir a verdade dos fatos para os apoiadores do presidente americano. Para os “trumpistas”, tudo o que esses veículos informam é falso.

Aqui, no Brasil, está acontecendo a mesma coisa. Os apoiadores de Bolsonaro não reconhecem a grande imprensa como fonte de notícias e fatos verdadeiros (o pleonasmo aqui foi proposital). Para os “bolsonaristas”, O Globo, Folha de São Paulo e até mesmo o Estadão são veículos mentirosos que perseguem o presidente.

Nossos jornais estão cometendo os mesmos erros que os jornais dos EUA. Tanto aqui como lá as asneiras de Trump e Bolsonaro têm maior destaque do que deveriam, e tanto lá quanto cá faz-se paralelos injustos entre políticos da esquerda e Trump/Bolsonaro.

A situação é complicada demais, complexa demais. Mas a grande mídia não aparenta estar se esforçando para entender melhor o que está acontecendo e reagir a isso. É preciso mudar a maneira como se trata Bolsonaro. Ele não é um político comum. Ele não respeita a democracia. Ele não é civilizado. Ele não está governando para todos os brasileiros. É preciso que a grande mídia entenda e deixe claro quem é Jair Bolsonaro e do que ele é capaz, antes que seja tarde.

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